sábado, 14 de julho de 2012

Martírio e oportunismo entre os islamistas

O fenómeno dos mártires do Islão não pode ser dissociado do fundamentalismo islâmico, que encara o Islão não apenas como uma religião, mas também como um sistema que governa os sectores políticos, económicos, culturais e sociais do estado, indo contra o paradigma de estados laicos. Um desses casos é a Jihad Islâmica, que tem como objectivo destruir o Estado de Israel.

Asmed Rashid destaca que movimentos globais, como a Al-Qaeda, que tem por base a ideologia do fundamentalismo islâmico, ignoram a grande Jihad e apontam a pequena Jihad como “filosofia política e social completa”. “É essa perversão da Jihad – como justificação para matar o inocente - que em parte define o novo fundamentalismo radical dos movimentos islâmicos mais extremistas de hoje”, acrescenta (Rashid, 2003, p. 16).

Sandra Liliana Costa escreve que os  jihadistas, ao contrário de outros islamitas, não fornecem qualquer projecto intelectual para a ordem islâmica que almejam. “O seu objectivo resume-se à captura e islamização do Estado e à imposição do seu programa islâmico a toda a sociedade”, denota, acrescentando que “muitos autores defendem que é precisamente esta pobreza em ideias originais que explica a predilecção especial que os islamistas jihadistas têm pelo recurso ao conflito” (Costa, p. 32).

A Jihad agressiva actual luta sobretudo contra o Ocidente, opondo-se a governos islâmicos que estejam associados a países ocidentais. O objectivo final é unificar todo o mundo islâmico, sob a liderança de um Califa, como nos primórdios da história da religião. Os governos dos países muçulmanos considerados corrompidos pela influência ocidental devem ser varridos do mapa na perspectiva do líder da Al-Qaeda. "Chegará o tempo em que vocês desempenharão um papel decisivo no mundo, de forma que a palavra de Alá seja suprema e as palavras dos infiéis sejam subjugadas", prometeu ele aos seus seguidores no texto “A Bomba Nuclear do Islão”. Silas Tostes destaca que “devido as várias concepções de Jihad, mas principalmente entre a versão defensiva e agressiva, há muita tensão no mundo islâmico” (Tostes, p. 46). O historiador francês Marc Ferro, citado por Jaime Oliva, fala mesmo numa guerra civil que está a ser travada no interior do mundo árabe-muçulmano, entre “os que querem modernizar o Islão, e os que querem islamizar a modernidade” (Oliva, 2008).

A Al-Qaeda fomenta o terrorismo em diversos países, nomeadamente onde existem interesses norte-americanos e, devido à sua independência financeira – suportada pelos milhares de seguidores de Obama bin Ladein espalhados por todo o mundo -, tem bastante influência em outros grupos terroristas, o que leva estes últimos a partilharem um sentimento anti-americano. Alcino Cruz escreve que “todos os países ocidentais podem ter a certeza de que não terão descanso, em virtude das acções terroristas serem perpetradas sobre várias formas até que os propósitos do Islão sejam concretizados”, isto é, até que se convertam à religião de Maomé (Cruz, 2002, p. 34).

Referências bibliográficas:


- COSTA, Sandra Liliana, “As várias manifestações do Islamismo na Europa”, in
http://www.google.pt/url?sa=t&source=web&cd=1&ved=0CBcQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww1.eeg.uminho.pt%2Friap%2Fcp%2Fceupinto%2FProjectoFCT%2FWorking%2520Paper%2520Projecto%2520SC.pdf&rct=j&q=Working%20Paper%20Projecto%20SC%20Sandra%20Liliana%20Costa%20islao%20an%20europa&ei=pq0ITdyKE8a38QPTkKwb&usg=AFQjCNGQxqeo8E3vsma99VhOvlJ6e-4Pzw&sig2=akkeyVMVQxYXtSM_exfg1A (Consultado em Dezembro de 2010).
- CRUZ, Alcino (2002), O pensamento e a humilhação das mulheres da fé islâmica, Lisboa, Campo Grande Editora.
- OLIVA, Jaime (2008), “Paquistão: entre modernizar o Islão ou islamizar a modernidade”, in http://jaimeoliva.blogspot.com (Consultado em Dezembro de 2010).
- RASHID, Ahmed (2003), Jihad – Ascensão do Islão militante na Ásia Central, Lisboa, Terramar.
- TOSTES, Silas, “Jihad e o Reino de Deus”, in instituto.antropos.com.br/downloads/Jihad.pdf  (Consultado em Dezembro de 2010).

Nota:
Texto escrito em Dezembro de 2010.

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