O Ocidente já não é centro do Mundo, mas o centro do nosso olhar. E é partir dele que observamos o que nos rodeia.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Rússia: o actor global ou como o país se revê no plano NATO
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Outono Ocidental
Outubro, mês não oficial do início do Outono, não tem sido fácil para o Ocidente. Apesar de a NATO ter vencido na Líbia e de a maior parte dos países ter apoiado o lado certo (leia-se, com mais força) nas várias revoluções árabes, os maiores problemas vêm agora de dentro.
Após meses de alguns focos de protestos pacíficos, o mundo assistiu a uma manifestação global a 15 de Outubro. Milhares de pessoas gritaram o seu descontentamento nacional numa língua universal contra a crise.
Se no Ocidente as manifestantes uniram-se sobretudo contra aquilo que dizem ser democracias pouco representativas, medidas de austeridade, o jugo dos mercados e até da “troika”, em Telavive o alvo foi a ocupação israelita dos Territórios Palestinianos, nas Filipinas o ataque foi contra o “imperialismo americano” e na África do Sul escutaram-se pedidos de mais emprego, educação e saúde. Os bósnios, por exemplo, recuperaram velhas bandeiras comunistas onde se podia ler “morte ao capitalismo, liberdade para as pessoas” e gritaram o nome de Che Guevara.
Uma nova ideologia surge sempre como a saída perfeita, até porque resulta mais fácil gritar por uma mudança colectiva do que silenciar-se na busca de uma mudança individual.
Legenda: Protesto na Praça Tahrir, Egipto (Créditos: O Globo)
Contudo, convém lembrar que não foi a ditadura de Ben Ali que lançou os protestos na Tunísia, mas a falta de trabalho. Não foi o regime de Hosni Mubarak que levou as pessoas à rua, mas a escassez de pão.
O movimento 15-M em Espanha pede “Democracia Real Já”, mas é composto sobretudo por jovens desempregados. Já os manifestantes do “Occupy Wall Street” insurgem-se contra a influência empresarial na sociedade quando querem apenas menos desigualdades sociais.
Em todos os casos a inspiração vem da Primavera Árabe. Uma inspiração que levou os gregos a provocarem grandes distúrbios contra as medidas de austeridade e que agora vêm metade da dívida perdoada.
A tensão tem vindo a crescer nas manifestações no Ocidente. A 15 de Outubro, Roma foi palco dos piores distúrbios das últimas décadas, com 135 feridos.
Esta quarta-feira repetiram-se confrontos entre polícias e manifestantes em Oakland, na Califórnia. Mais uma acção inserida no “Occupy Wall Street”, que começou há mais de um mês.
Legenda: Protesto na Puerta del Sol, Espanha (Créditos: Pedro Armestre, AFP)
Se no norte de África manifestantes tunisinos entregaram flores aos militares e, mais tarde, muitos militares da região uniram-se aos protestos, em Portugal, a 15 de Outubro, alguns manifestantes gritaram aos polícias que também lutavam pelos direitos das forças de segurança.
Talvez por isso o facto de os militares - que só devem tirar a farda em situações extremas - terem agendado um protesto para 12 de Novembro contra os cortes nos salários e nos subsídios surge agora como um maior motivo de preocupação.
Não é de prever um novo golpe de Estado como o 25 de Abril, mas é inegável que protestos como este dão força a uma revolução primaveril que inunda o espírito de muitos jovens com poucos motivos de esperança.
“Tahrir – Liberation Square”
É inevitável não falar da Primavera Árabe, quando a mesma é recorda ao longo do IX Festival Internacional de Cinema – DocLisboa 2011, a decorrer até dia 30.
No passado dia 24, Stefano Savona apresentava ao público “Tahrir – Liberation Square”, um olhar sobre a revolta egípcia, na emblemática Praça Tahrir. Misturando-se com o revoltosos Savona consegue transmitir ao espectador a visão de um povo revoltado que ambicionava mudanças.
Ao longo do documentário somos confrontados com gritos colectivos, “Rua”, “Mubarak és um traidor”, “Mubarak o teu lugar é no sarcófago junto dos faraós” e muitos outros contra um líder que aspirava perpetuar-se no poder, num regime à muito ignóbil.
Paralelamente a Tahrir, novos protestos incendiavam em grandes cidades como Alexandria, Suez e Ismaília. A revolta inicialmente pacífica tomaria repercussões surpreendentes quando os confrontos tornaram-se patentes, entre os revoltosos e forças leais ao regime. O arremesso de pedras colhidas da via pública seria a forma encontrada pelos manifestantes para defrontar-se. Incrédulos assistiriam ainda à investida contra os manifestantes da Praça Tahrir. «A partir do momento em que o regime mobilizou alguns milhares de gorilas armados, para investir a praça central da manifestação, rompeu-se qualquer tipo de ponte ou de possibilidade de transição controlada» (Rogeiro.2011:69). Ainda assim os egípcios não cederam e mantiveram-se unidos em prol de um objectivo, o derrube de Hosni Mubarak.
A 11 de Fevereiro o tão desejado ocorria, e o antigo líder egípcio renunciava o cargo ocupado durante cerca de 30 anos (14 de Outubro de 1981 – 11 de Fevereiro de 2011), juntamente com o vice-presidente Omar Suleiman. O poder era então repassado para um Conselho Militar.
Para o futuro certamente perdurará a imagem de um Mubarak excêntrico e corrupto sobrepondo ao investimento realizado no país, em grande medida devido ao extenso período permanecido no poder.
O triunfo deste movimento heterogéneo e sem aparente liderança foi surpreendente, mas estaria suficientemente preparado para a transição?
Cerca de nove meses depois pouco ou nada sabemos do que resta da tão mencionada revolução egípcia, visto que outros acontecimentos esgotaram o seu “tempo de antena”.
Em entrevista Mona Prince, conhecida como a blogger que denunciou os abusos na Praça Tahrir, a mesma não hesita em referir que o país “está muito mal”. Ainda acrescenta que «(…) na semana passada, o exército passou por cima das pessoas com tanques. Honestamente, fiquei chocada. Acho que estamos a regredir para um ponto anterior a 25 de Janeiro. O exército somos nós, o povo, os nossos irmãos, primos e vizinhos. Sempre disseram que o exército nunca mataria o povo, mas fizeram-no na semana passada».
Para Novembro estão previstas as eleições parlamentares. Não basta mudar as personagens do cenário político, é fundamental uma profunda reforma, caso contrário assistiremos a efeitos boomerang.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
China:Relacionando a Segurança Humana e os ODM's
domingo, 23 de outubro de 2011
20 de Outubro de 2011: um dia auspicioso ou hospicioso?
Um homem morreu – provavelmente apedrejado – e o mundo festejou. Milénios passaram, milhares de leis sobre os direitos humanos nasceram e sociedades transformaram-se em civilizações (mais ou menos civilizadas), mas o espectro de Jesus Cristo continua actual. Quando se trata de vingar, não há espaço para o julgar ou para o altar.
Barack Obama leu a notícia da morte do líder líbio deposto como o “fim de um capítulo longo e doloroso”. Já David Cameron aproveitou a ocasião “para recordar vítimas” e Angela Merkel viu no assassinato de Kadhafi o início do “caminho para a paz”.
Contudo, a jornada acabou rápido e o amanhecer trouxe a luz a uma colecção de volte-faces. O primeiro foi mais uma espécie de volte-face múltiplo, tantas que foram as versões sobre a morte do ex-líder líbio. A primeira informação, avançada por um comandante do Conselho Nacional de Transição (CNT), dava conta de ferimentos nas duas pernas e de um transporte urgente para o hospital. Depois surgiram imagens que mostram Muammar Kadhafi coberto de sangue com um buraco de bala na cabeça. Foi ainda divulgado um vídeo em que rebeldes líbios festejam enquanto lançam pedras e batem em Kadhafi, apesar de este pedir repetidamente “misericórdia”.
Imagens que mostram que o homem que governou a Líbia durante 42 anos foi capturado e só depois morto, algo que choca com o mais elementar nos campos da segurança e dos direitos humanos. De acordo com médicos ouvidos pela Al Arabiya sexta-feira de manhã, a autopsia apontou como causa de morte um tiro disparado no estômago. Durante a tarde, o primeiro ministro interino falou num tiro fatal na cabeça. Se é verdade que nestes casos basta a mentira razoável do poder, tantas contradições são descredibilizantes e auguram um futuro nada unificado no país.
A morte foi assim atribuída ao CNT, o mesmo que queria julgar Kadhafi em solo líbio, antes de o Tribunal Penal Internacional o fazer em Haia. A Rússia, desde o início contra a ingerência da Aliança Atlântica, aproveitou para criticar a morte de Kadhafi, invocando a Convenção de Genebra.
Já a ONU, pela voz do Alto Comissário para os Direitos Humanos, só falou num inquérito às circunstâncias da morte de Kadhafi quando confrontada com um pedido da viúva. Isto horas depois de Ban Ki-moon ter dito que a morte de Kadhafi representava uma “transição histórica”.
Por seu lado, a NATO demitiu-se do assunto, afirmando que bombardeou a coluna onde seguia o antigo governante sem saber que ele lá estava. Ainda assim, logo após a morte de Kadhafi, a Aliança Atlântica, triunfalista, deu a missão como cumprida e prepara-se para sair já a 31 de Outubro, com receio de ficar 'presa' a um novo Afeganistão.
Também a comunidade internacional assumiu um volte-face. Afinal, os ataques indiscriminados das antigas forças do regime contra os rebeldes, que motivaram a ingerência humanitária da NATO, terão sido muito semelhantes ao perpetrado contra Kadhafi.
Mais uma vez, o direito internacional não será aplicado (ou, quando muito, serão cumpridas as ordens de prisão de Saif al-Islam, filho de Kadhafi, e de Abdullah al-Senussi, antigo chefe de espionagem) e as críticas de alguns líderes e organizações terão pouca expressão.
Resta saber que ventos continuarão a soprar de países como a Síria, quantas mais ingerências humanitárias serão decididas e quantas mais mortes serão necessárias para a maioria dos eleitores pôr em causa até o assassinato de Osama bin Laden.