A Europa conta actualmente com cerca de 20 milhões de pessoas que professam o Islão (segundo uma estimativa apontada por Sandra Liliana Costa), sem ter em conta a população russa da Europa. Esta população tem crescido rapidamente e a média de idades dentro do grupo é mais jovem do que a da restante população europeia.
Henrique Raposo chama a atenção para o facto de um muçulmano na Europa ser associado ao conceito comunitário e religioso da comunidade muçulmana e não ao conceito individual e legal de cidadão (Raposo, p. 1). “O jihadismo é uma realidade que marca os muçulmanos de hoje; o jihadismo terrorista existe entre os muçulmanos. Se é desonesto ligar o radicalismo ao Islão por inteiro (como fazem os defensores do choque civilizacional), também é desonesto fingir que o islamismo é o resultado da opressão que o sistema ocidental lança sobre os muçulmanos (tal como fazem os defensores das teses multiculturalistas”, escreve o mesmo autor (Raposo, p. 4).
Sandra Liliana Costa explica que perante a divisão do movimento, sem uma base de apoio consolidada, os islamistas foram obrigados a repensar as suas estratégias e redefiniram um novo inimigo para manter acesa a chama revolucionária. Eles “podiam calcular que ao atingirem países ocidentais, estes ripostariam, o que iria abalar as consciências muçulmanas, pois ao sentirem-se atacados uma vez mais os muçulmanos acabariam por apoiar a luta dos jihadistas”. (Costa, p. 39). Além disso, consideravam a luta contra os governos ocidentais, cuja influência tanto se fazia sentir nos países muçulmanos, uma maneira de enfraquecer os governantes locais, escreve a mesma autora (Costa, p. 39).
Sandra Liliana Costa fala numa segunda geração do movimento. “Com um controlo mais apertado por parte das autoridades e com as próprias comunidades muçulmanas mais alerta para o problema da radicalização”, os adeptos da ideologia jihadista encontram formas alternativas de conseguir treino necessário para entrar em acção (Costa, p. 39). “Não raras vezes, assistiu-se nos últimos anos ao fenómeno da criação de células jihadistas formadas através da autoradicalização, auto-recrutamento e treino auto-didacta, por exemplo, com base em documentos e recursos obtidos via Internet, a qual funciona como um campo de treino virtual”, explica a mesma autora (Costa, p. 39).
Actualmente, a Europa está na vanguarda islamista, quer ao nível doutrinário, quer ao nível da operacionalidade no terreno. É considerada por Walter Laqueur, citado por Henrique Raposo, como a base principal para grupos terroristas (Raposo, 2009, p. 9). “Neste momento, está a ocorrer uma exportação da Jihad para a Europa. E, atenção, essa exportação é feita com base em apoiantes locais da Jihad global e não em voluntários oriundos do coração do mundo árabe”, alerta Reuven Paz, igualmente citado por Henrique Raposo (Raposo, 2009, p. 9). Muitos radicais, expulsos do Médio Oriente, encontram nas mesquistas europeias o local perfeito para centros islamistas vanguardistas e mesmo armazéns, daí Londres ser considerada a capital intelectual do radicalismo islamiata. Alguns radicais como Abu Qatada, Osmar Bakri Mohammed, Abu Hamza e Mohammed al-Massari obtiveram autorização para entrar no Reino Unido, para pregar a violência contra o Ocidente, angariar dinheiro e recrutar jovens para a Jihad. Daí, nota Henrique Raposo, não é de estranhar que o ataque de 7 de Julho em Londres tenha sido levado a cabo por indivíduos que nasceram no Reino Unido.
Com efeito, Sandra Liliana Costa realça que muitos dos jovens descendentes muçulmanos cresceram em sociedades europeias preconceituosas, o que resultou na sua marginalização e alienação. Esta realidade levou muitos deles a procurar uma “identidade alternativa e auto-estima numa suposta vanguarda islâmica global e no cumprimento de um dever honroso”, escreve a autora (Costa, p. 41). Recorde-se que os autores do atentado de Londres a 7 de Julho de 2005 eram jovens da classe média formados em universidades, que aparentemente até estavam bem integrados na sociedade.
Perante esta realidade, várias pessoas demonstram pessimismo relativamente à presença de radicais islamistas na Europa. O Ocidente poderá apenas conter e não derrotar grupos militares como a Al-Qaeda, entende o chefe das forças armadas britânicas, para quem o extremismo islâmico, enquanto ideia, não é passível de erradicação. O general Sir David Richards, um antigo comandante da NATO no Afeganistão, acrescentou que a militância islamista será uma ameaça ao Reino Unido por, pelo menos, 30 anos (BBC, 2010).
Importa também dizer que a economia ocidental é, há 15 anos, um alvo da Al-Qaeda, mas, desde a crise financeira de 2008, os partidários da rede terrorista compreenderam que esta é muito mais vulnerável e intensificaram os ataques para arruinar os inimigos. “É a estratégia de ferir para levar à falência", afirmou o director do centro de estudos da radicalização terrorista na Fundação pela Defesa das Democracias, um centro de reflexão de Washington. Citado pela AFP, o americano Daveed Gartenstein-Ross acrescentou que "Bin Laden pensa sinceramente que participou na ruína da União Soviética no Afeganistão e o seu objectivo é fazer o mesmo com os Estados Unidos”, já que as guerras do Iraque e do Afeganistão são extremamente caras (AFP, 2010). Os extremistas têm ainda a noção que forçar o Ocidente a instalar dispositivos de segurança eficazes para detectar os artefactos explosivos dos extremistas é uma carga pesada adicional em economias já debilitadas.
Esta estratégia e os efeitos da mesma levam algumas pessoas a prever o pior. Por exemplo, Bernard Lewis, um reputado especialista em questões do Médio Oriente, afirma que a Europa está prestes a ser tomada pelos muçulmanos porque os europeus “estão a perder a lealdade a si mesmos, a sua auto-confiança” e “não têm respeito pela própria cultura”. Para este professor, em breve, o Islão tomará conta de toda a Europa devido à promoção do “multi-culturalismo” e do “politicamente correcto” entre os povos do Velho Continente.
Adelino Torres alerta ainda que o islamismo político parece especialmente perigoso, não só por causa do “terrorismo em si, que poderia ser ou não circunstancial, mas porque aquilo que pressupõe no plano gnosiológico aponta para um retrocesso histórico”. “É uma concepção teológica redutora das relações entre os homens, uma metafísica estreita que perverte o pensamento, contribui para um empobrecimento brutal da criatividade e para a anulação do espírito crítico”, avisa (Torres, p. 9).
Referências bibliográficas:
- AFP (2010), “Al-Qaeda ataca o calcanhar de Aquiles do Ocidente: a economia”, in http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/101201/mundo/alqaeda_economia_conflito_transporte&printer=1 (Consultado em Dezembro de 2010).
- BBC Online (2010), “Ocidente não consegue derrotar a Al-Qaeda, diz chefe das forças armadas britânicas”, in http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-11751888 (Consultado em Dezembro de 2010).
- COSTA, Sandra Liliana, “As várias manifestações do Islamismo na Europa”, in
http://www.google.pt/url?sa=t&source=web&cd=1&ved=0CBcQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww1.eeg.uminho.pt%2Friap%2Fcp%2Fceupinto%2FProjectoFCT%2FWorking%2520Paper%2520Projecto%2520SC.pdf&rct=j&q=Working%20Paper%20Projecto%20SC%20Sandra%20Liliana%20Costa%20islao%20an%20europa&ei=pq0ITdyKE8a38QPTkKwb&usg=AFQjCNGQxqeo8E3vsma99VhOvlJ6e-4Pzw&sig2=akkeyVMVQxYXtSM_exfg1A (Consultado em Dezembro de 2010).
- RAPOSO, Henrique (2009), “O islamismo nas sociedades europeias – os mitos da comunidade muçulmana, do diálogo de civilizações e do Islão moderado”, in www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/ri/n22/n22a06.pdf (Consultado em Dezembro de 2010).
- TORRES, Adelino (2005), “Racismo, Islamismo político e modernidade”, in António Custódio Gonçalves (Coordenação de), “O racismo, ontem e hoje”, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2005, p. 23-39.
Nota: Texto escrito em Dezembro de 2010.