Para entender as diferentes
interpretações de Jahid é preciso dar longos passos atrás na história.
Na verdade, o conceito tem-se modificado ao longo de 14 séculos, de
Maomé a Obama bin Laden.
Os Hadith, uma compilação de relatos das
acções e ensinamentos de Maomé, esclarecem detalhes do Alcorão,
facilitando indicações precisas quanto a tratados, espólios,
prisioneiros, tácticas e muito mais. A partir desses preceitos, os
juristas muçulmanos criaram mais tarde um conjunto de leis. Com efeito, o
processo iniciado pelo Maomé teve um sucesso tão grande que, após oito
anos de pregação e combate, o profeta conseguiu a submissão de Meca, no
ano 630. Durante os anos que esteve no poder, Maomé travou, em média,
nove batalhas militares por ano, por isso pode dizer-se que a Jihad
ajudou a definir o perfil do Islão desde o princípio. O exemplo de Maomé
e o califado dos seus quatro sucessores representam um período de
referência para todos aqueles que regem a sua vida pelos ditos do
Alcorão. “Os muçulmanos entendem que foi graças ao Alcorão que acabaram
por realizar tantas e tão gloriosas conquistas” no passado, pegando
desde logo nos exemplos de vida dos companheiros do profeta que
sacrificaram as suas vidas pela fé islâmica (Costa, 2003, p. 23).
Com o fim das conquistas, altura em que dominou uma Jihad agressiva e
expansiva, os não-muçulmanos deixaram de representar uma ameaça e ganhou
espaço a Jihad Maior.
Entretanto, as Cruzadas - o esforço militar
europeu para controlar a Terra Santa, na altura sob domínio dos
muçulmanos turcos - deram à Jihad Menor, em concreto defensiva, uma nova
urgência. No século XII, as invasões mongólicas subjugaram grande parte
do mundo islâmico e alguns pensadores chegaram a fazer uma distinção
entre falsos e verdadeiros muçulmanos e a conferir à Jihad uma nova
importância, julgando a fé de uma pessoa pela sua determinação em lutar.
No século XIX, as Jihads chamadas “purificadoras” voltaram-se contra os
próprios muçulmanos em algumas regiões, como na Arábia. Entretanto, o
imperialismo europeu também inspirou os esforços de resistência
jihadista em locais como a Índia, o Cáucaso, a Somália e Marrocos, mas
todos fracassaram.
“O novo pensamento islamista surgiu no Egipto e
na Índia nos anos 20, mas a Jihad só tomou a forma de uma guerra
ofensiva radical com o pensador egípcio Sayyid Qutb, morto em 1966. Qutb
retomou a distinção de Ibn Taymiya entre falsos e verdadeiros
muçulmanos para acusar os não-islamistas de não serem muçulmanos e,
assim, declarar uma Jihad contra eles. Então, o grupo que assassinou
Anwar El-Sadat em 1981 acrescentou a ideia de Jihad como o caminho para a
dominação mundial”, escreve Daniel Pipes (Pipes, 2005). Prémio Nobel da
Paz em 1978 e presidente do Egipto entre 1970 e 1981, Muhammad Anwar Al
Sadat foi assassinado por membros da Jihad Islâmica Egípcia infiltrados
no exército e que se opunham às negociações com Israel.
Surgiu,
entretanto, uma nova tendência dentro do Islamismo, que marca o
crescimento do secularismo entre os muçulmanos, como na Turquia. A par
deste crescimento, virou-se mais uma página em direcção à dominação
mundial por parte dos muçulmanos, em concreto na guerra contra os
soviéticos no Afeganistão, já que, pela primeira vez, jihadistas do
mundo inteiro reuniram-se num país para lutar em nome do Islão. “Um
palestino, Abdullah Azzam, tornou-se o teórico da Jihad global na década
de 80 atribuindo-lhe um papel central sem precedentes, julgando cada
muçulmano exclusivamente por sua contribuição à Jihad e fazendo desta a
salvação dos fiéis e do Islão. O terrorismo suicida e Bin Laden não
tardaram a surgir” (Pires, 2005). Entre a década de 90 e a actualidade,
este sentimento tem crescido através da Al-Qaeda e de grupos
semelhantes, que formam uma complexa rede mundial.
Referências
bibliográficas:
COSTA, Helder Santos (2003), O Martírio no
Islão, Lisboa, ISCSP.
PIPES, Daniel (2005), “A Jihad através da
História”, in New York Sun (Consultado em http://pt.danielpipes.org/ em
Dezembro de 2010).
Nota: Texto escrito em Dezembro de 2010.
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