segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Rússia: o actor global ou como o país se revê no plano NATO

A assertividade da política externa da Rússia tem sido um dos principais focos de interesse no palco das Relações Internacionais na última década. Ondulada, serpenteante, ora em linha com o Ocidente, ora desafiante e contrária do mesmo, é um exercício curioso tentar adivinhar quais os propósitos russos no desenrolar das mais diversas interacções internacionais. Essa dicotomia tem sido perceptível na abertura das relações com os EUA, ao mesmo tempo que se concerta com o Irão, por exemplo. Uma coisa é certa, o propósito último é bem claro: “uma política externa previsível e pragmática, ditada pelos seus interesses nacionais.”[1] Aliás, este pragmatismo leva à constante busca das mais variadas parcerias com os mais diversos actores: Irão, China, Países Escandinavos, EUA, entre outros. O objectivo é sempre o mesmo: retirar das mais variadas relações bilaterais vantagens para o «interesse nacional», com pragmatismo, oferecendo em troca benefícios e sendo sempre transparente o que o país quer do interlocutor. Seja através da criação de zonas estáveis de esfera de influência, onde o país se move com relativo à vontade, seja com uma titubeante condução da política externa, pouco preocupada com “pontes” de cooperação com o Ocidente ou os novos países emergentes, o que interessa é sempre o interesse nacional russo, “a expressão do desejo de afirmação de Moscovo enquanto actor regional e global.”[2]
Parceria é um termo central na Política Externa russa. É o cerne da relação Rússia-NATO, por exemplo. E foi o tema de uma entrevista com Dmitry Rogozin, embaixador junto da NATO ao jornal Expresso. Como manifestou o entrevistado, o propósito russo em relação à Organização é claro: Parceria. O país não tenciona juntar-se à Aliança. Como o próprio Rogozin admitiu uma vez: “grandes potências não se juntam a alianças, criam alianças. A Rússia considera-se uma grande potência.”[2] Aliás, a entrevista recolhida pode ser vista quase como um “programa do país” para a NATO. E mais uma manifestação da dualidade russa. Quer Rogozin na entrevista, quer as próprias relações com a NATO nos últimos tempos são prova disso. O embaixador manifesta-se contra a militarização dos países adjacentes à Rússia, ao mesmo tempo que apoia a intervenção no Afeganistão. Porquê? Interesse nacional. Controlo do tráfico de armas ou droga. E também estabilização da zona. A Rússia ao pretender isto quer dizer basicamente que a NATO não pode «mexer» na esfera russa, mas também quer o Afeganistão controlado, para não se preocupar com questões daí advenientes. E apesar de pontos de interesse em comum, os planos da Aliança Atlântica de expansão à Ucrânia e Geórgia irão colidir com o interesse russo, uma vez que, segundo o próprio presidente Medvedev, um bloco militar junto das suas fronteiras poderá afectar “a segurança europeia”. Ou seja, poderá perigar os interesses económicos e diplomáticos numa zona onde a Rússia pretende ter a palavra decisória.


[1] Idem nota 13.
[2] Cfr em http://en.wikipedia.org/wiki/NATO%E2%80%93Russia_relations consultado a 25 de Janeiro de 2011.


[2] Cfr FREIRE, Mª Raquel, “O pragmatismo assertivo de Putin na política externa russa: linhas de (des) continuidade?”.

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