quinta-feira, 27 de outubro de 2011

“Tahrir – Liberation Square”

É inevitável não falar da Primavera Árabe, quando a mesma é recorda ao longo do IX Festival Internacional de Cinema – DocLisboa 2011, a decorrer até dia 30.

No passado dia 24, Stefano Savona apresentava ao público “Tahrir – Liberation Square”, um olhar sobre a revolta egípcia, na emblemática Praça Tahrir. Misturando-se com o revoltosos Savona consegue transmitir ao espectador a visão de um povo revoltado que ambicionava mudanças.

Ao longo do documentário somos confrontados com gritos colectivos, “Rua”, “Mubarak és um traidor”, “Mubarak o teu lugar é no sarcófago junto dos faraós” e muitos outros contra um líder que aspirava perpetuar-se no poder, num regime à muito ignóbil.

Paralelamente a Tahrir, novos protestos incendiavam em grandes cidades como Alexandria, Suez e Ismaília. A revolta inicialmente pacífica tomaria repercussões surpreendentes quando os confrontos tornaram-se patentes, entre os revoltosos e forças leais ao regime. O arremesso de pedras colhidas da via pública seria a forma encontrada pelos manifestantes para defrontar-se. Incrédulos assistiriam ainda à investida contra os manifestantes da Praça Tahrir. «A partir do momento em que o regime mobilizou alguns milhares de gorilas armados, para investir a praça central da manifestação, rompeu-se qualquer tipo de ponte ou de possibilidade de transição controlada» (Rogeiro.2011:69). Ainda assim os egípcios não cederam e mantiveram-se unidos em prol de um objectivo, o derrube de Hosni Mubarak.

A 11 de Fevereiro o tão desejado ocorria, e o antigo líder egípcio renunciava o cargo ocupado durante cerca de 30 anos (14 de Outubro de 1981 – 11 de Fevereiro de 2011), juntamente com o vice-presidente Omar Suleiman. O poder era então repassado para um Conselho Militar.

Para o futuro certamente perdurará a imagem de um Mubarak excêntrico e corrupto sobrepondo ao investimento realizado no país, em grande medida devido ao extenso período permanecido no poder.

O triunfo deste movimento heterogéneo e sem aparente liderança foi surpreendente, mas estaria suficientemente preparado para a transição?

Cerca de nove meses depois pouco ou nada sabemos do que resta da tão mencionada revolução egípcia, visto que outros acontecimentos esgotaram o seu “tempo de antena”.

Em entrevista Mona Prince, conhecida como a blogger que denunciou os abusos na Praça Tahrir, a mesma não hesita em referir que o país “está muito mal”. Ainda acrescenta que «(…) na semana passada, o exército passou por cima das pessoas com tanques. Honestamente, fiquei chocada. Acho que estamos a regredir para um ponto anterior a 25 de Janeiro. O exército somos nós, o povo, os nossos irmãos, primos e vizinhos. Sempre disseram que o exército nunca mataria o povo, mas fizeram-no na semana passada».

Para Novembro estão previstas as eleições parlamentares. Não basta mudar as personagens do cenário político, é fundamental uma profunda reforma, caso contrário assistiremos a efeitos boomerang.

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