terça-feira, 25 de outubro de 2011

China:Relacionando a Segurança Humana e os ODM's

Parece-me perfeitamente possível construir uma perspectiva que permita analisar os ODM’s como um modo de operacionalizar/promover a Segurança Humana. Assim, será à luz deste preceito que me irei debruçar na relação feita no título.

Antes de mais, é preciso salientar que vários analistas concordam na previsão que apontam que a economia da China continuará pujante. Isto é tão mais importante porque permitirá ao país continuar a corrigir as suas assimetrias, que ainda são enormes: ¾ da população vive em apenas 25 % do território. Os restantes 75% vivem com fracas condições a todos níveis, saúde, educação e infraestruturas. Isto vai permitir que o país se coloque na linha da frente dos ODM’s. Para 2020, as previsões do PIB per capita estão nos 6000 dólares, prevendo-se que a China se posicione a meio da tabela dos países desenvolvidos. Ainda em 2009, Helen Clark, administradora do PNUD, afirmou que “muito provavelmente” o país iria atingir os ODM. Este optimismo  baseia-se nos dados que indicam que cerca de 500 milhões de pessoas foram arrancadas à pobreza entre 90 e 2005, 2/3 da mortalidade infantil e a maioria das crianças do sexo feminino já estão matriculadas no ensino primário. Porém, é apontado também pelo PNUD que do ponto vista ambiental, o país ainda continua bastante atrasado. De qualquer forma, o Governo já propôs medidas de controlo, ao aprovar inúmeras leis para reverter isto, com o dispêndio de milhões de dólares (fruto novamente do crescimento económico) e no investimento nas coordenações socioeconómicas, tendo em vista, sobretudo, a reflorestação e água, factores importantes na Segurança Ambiental e previstos nos ODM’s. Alguns dados avulsos sobre a China e os ODM’s indicam o seguinte: na educação, a rede de escolas secundárias aumentou, entre 90 e 05, de 67% para 90%; a mortalidade materna em 1990 era de 89 para cada 100 000. Em 2003, passou para 51,3 em 2003; o crescimento do VIH/SIDA abrandou (apesar do alto número de infectados) e o comércio com África passou dos 2 mil milhões de dólares em 1999 para 30 mil milhões em 2004. Aliás, é no Objectivo 8 que a China se tem feito sentir ao nível global, sobretudo nos países africanos. A ajuda ao desenvolvimento, os investimentos em projectos de prestígio (construção de parlamentos, estádios, entre outros), trocas comercias, importação de matérias-primas e recursos energéticos, abertura dos mercados e perdão de partes significativas de dívida têm sido as “colaborações” da China para a Parceria Global, mas também para a tão cara Segurança Económica para Pequim. Obviamente que não existem almoços grátis e esta parceria tem um propósito bem claro: ganhos diplomáticos. Ainda assim, será talvez da China o esforço mais visível ao nível da Parceria Global, algo bem estampado nos seus documentos governamentais em política externa. E algo que possivelmente deveria servir de exemplo a outras potências, tão puritanas à face, mas que depois apertam a mão a ditadores e permitem negócios empresariais em países "pouco recomendáveis".

5 comentários:

  1. Independentemente dos motivos que levam a China a apostar na Parceria Global, Pequim podia ter seguido outro caminho - menos altruísta, mais agressivo - porque têm a faca e o queijo na mão. É uma boa lição para aqueles que acusam (ou melhor, acusavam, quando a ajuda económica chinesa não era tão importante) a China de desrespeito pelos Direitos Humanos (em muitas coisas que infelizmente continuam por resolver e que estão cada vez mais esquecidas pela comunidade internacional), pois em muitos domínios o avanço da China envergonha o retrocesso de outros países.

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  2. Tive um professor que disse que Portugal e a generalidade dos países planeava com um horizonte de meses, no máximo, 3 anos. A China planeava com um horizonte de 50 anos! Daqui a 40 anos vamos ver efectivamente a China com a faca e o queijo na mão e veremos o resultado. Negócios com a China, Irão, Libia (pré-revolução), etc., estão todos no mesmo saco.

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  3. Acho que nunca me vou esquecer da explicação desse professor! Que eles pensem mais a longo prazo não é difícil de imaginar, até porque os políticos em Portugal, etc. mantêm-se muito menos tempo no poder do que os líderes do Partido Comunista Chinês, mas 50 anos é imenso tempo!!

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  4. Eles têm capitais e estão a investir, estão a amealhar os recursos do mundo inteiro, seja o mármore alentejano sejam o petróleo e os diamamentes de Angola. Angola está a receber contrapartidas? Está. Mas serão as necessárias?

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  5. Isso já nos levaria para outra questão, mas mais do lado angolano, em concreto, da gestão dessa troca..

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