quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Outono Ocidental

Após meses de uma Primavera Árabe cheia de calor, emoção e até de inspirações românticas, tal amores de Verão embelezados pela distância, o Ocidente é agora confrontado com o espelho. É tempo de recolher, tirar a maquilhagem e descer do pedestal invisível.

Outubro, mês não oficial do início do Outono, não tem sido fácil para o Ocidente. Apesar de a NATO ter vencido na Líbia e de a maior parte dos países ter apoiado o lado certo (leia-se, com mais força) nas várias revoluções árabes, os maiores problemas vêm agora de dentro.

Após meses de alguns focos de protestos pacíficos, o mundo assistiu a uma manifestação global a 15 de Outubro. Milhares de pessoas gritaram o seu descontentamento nacional numa língua universal contra a crise.

Se no Ocidente as manifestantes uniram-se sobretudo contra aquilo que dizem ser democracias pouco representativas, medidas de austeridade, o jugo dos mercados e até da “troika”, em Telavive o alvo foi a ocupação israelita dos Territórios Palestinianos, nas Filipinas o ataque foi contra o “imperialismo americano” e na África do Sul escutaram-se pedidos de mais emprego, educação e saúde. Os bósnios, por exemplo, recuperaram velhas bandeiras comunistas onde se podia ler “morte ao capitalismo, liberdade para as pessoas” e gritaram o nome de Che Guevara.

Uma nova ideologia surge sempre como a saída perfeita, até porque resulta mais fácil gritar por uma mudança colectiva do que silenciar-se na busca de uma mudança individual.

Legenda: Protesto na Praça Tahrir, Egipto (Créditos: O Globo)

Contudo, convém lembrar que não foi a ditadura de Ben Ali que lançou os protestos na Tunísia, mas a falta de trabalho. Não foi o regime de Hosni Mubarak que levou as pessoas à rua, mas a escassez de pão.

O movimento 15-M em Espanha pede “Democracia Real Já”, mas é composto sobretudo por jovens desempregados. Já os manifestantes do “Occupy Wall Street” insurgem-se contra a influência empresarial na sociedade quando querem apenas menos desigualdades sociais.

Em todos os casos a inspiração vem da Primavera Árabe. Uma inspiração que levou os gregos a provocarem grandes distúrbios contra as medidas de austeridade e que agora vêm metade da dívida perdoada.

A tensão tem vindo a crescer nas manifestações no Ocidente. A 15 de Outubro, Roma foi palco dos piores distúrbios das últimas décadas, com 135 feridos.

Esta quarta-feira repetiram-se confrontos entre polícias e manifestantes em Oakland, na Califórnia. Mais uma acção inserida no “Occupy Wall Street”, que começou há mais de um mês.

Legenda: Protesto na Puerta del Sol, Espanha (Créditos: Pedro Armestre, AFP)

Se no norte de África manifestantes tunisinos entregaram flores aos militares e, mais tarde, muitos militares da região uniram-se aos protestos, em Portugal, a 15 de Outubro, alguns manifestantes gritaram aos polícias que também lutavam pelos direitos das forças de segurança.

Talvez por isso o facto de os militares - que só devem tirar a farda em situações extremas - terem agendado um protesto para 12 de Novembro contra os cortes nos salários e nos subsídios surge agora como um maior motivo de preocupação.

Não é de prever um novo golpe de Estado como o 25 de Abril, mas é inegável que protestos como este dão força a uma revolução primaveril que inunda o espírito de muitos jovens com poucos motivos de esperança.

3 comentários:

  1. blog muito interessante!!! Parabéns

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  2. Pois é Andreia, os motivos que estiveram na base dos protestos no mundo árabe são os mesmos em manifestações no Ocidente. Muito bem escrito(:

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  3. Muito obrigada a ambos! Fábio, espero que continues a acompanhar-nos! Somos, como tu, estudantes de RI e estamos sempre abertos a aprender com colegas! ;) Beijinhos

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