sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Myanmar e as novas oportunidades

A República da União de Myanmar decidiu dar alguns sinais tímidos de abertura e a comunidade internacional estendeu-lhe várias passadeiras. Mas terá o regime militar vontade de abrir tanto os braços? E que papel assumirá a China no país perante o aproximar do Ocidente?

Contrariando a falta de esperança no governo civil presidido por Thein Sein - fiel ao general Than Shwe, o líder da Junta Militar que governou o país de 1992 até 2010 - o novo executivo tem dado alguns passos em direcção à democratização: Suu Kyi, líder do principal partido da oposição e Prémio Nobel da Paz 1991, deixou finalmente de estar em prisão domiciliária e iniciaram-se as negociações entre ao seu partido, a Liga Nacional pela Democracia, e o governo, dezenas de presos políticos foram libertados e os sindicatos foram considerados legais.

O nome de Thein Sein, que consta da lista de pessoas visadas por sanções da União Europeia, ficou manchado por ter recusado, num primeiro momento, ajuda internacional às vítimas do ciclone de 2008. Ainda assim, foi ele quem apelou para o fim das fortes sanções políticas e económicas impostas ao país. Isto porque, apesar dos recursos estratégicos de que dispõe, como gás, petróleo e pedras
preciosas, o Myanmar é dos países mais podres do sudeste asiático, muito por culpa do isolamento a que se vetou. Basta recordar que, antes da ditadura, sob o controlo britânico, era um dos mais ricos da
região e o maior exportador mundial de arroz. Recentemente, tem-se tornado num grande produtor de ópio, uma actividade que não pode ser dissociada do crime organizado e do terrorismo.

Esta progressiva abertura, continua, todavia, à semelhança daquilo a que temos assistido na China, a ficar manchada por casos gritantes de violações dos direitos humanos. Denúncias recentes falam em falta de água e de medicamentos entre prisioneiros que iniciaram uma grave de fome.

Numa altura em que a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) procura consolidar mecanismos mais efectivos de cooperação, para que os seus membros resolvam problemas comuns e ganhem peso na comunidade internacional, o Myanmar foi convidado a presidir à associação, num
acto que mistura esperança com uma tentativa de responsabilização.

Recorde-se que a ASEAN, apesar da sua política de não interferência, foi dando ao longo do tempo sinais de esperança ao Myanmar, como apoio técnico e financeiro para que o país alcançasse os requisitos necessários com vista a tornar-se membro do bloco.

Também os Estados Unidos reagiram com um passo histórico: a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, visita o Myanmar. Apesar de saudar os progressos, o presidente norte-americano, Barack Obama, lembrou que “as violações dos direitos humanos ainda persistem”. “Por isso, vamos continuar a falar claramente sobre os passos que têm de ser dados pelo Governo da
Birmânia para que possa ter uma melhor relação com os EUA”, acrescentou.

Este aproximar acontece numa altura em que as relações de Naypyidaw (capital do Myanmar desde 2005) com Pequim, que sempre se pautaram por uma grande proximidade, com fortes relações económicas e com a China a seguir a sua política de não interferência, conhece uma distensão,
sobretudo após a decisão do Myanmar de colocar na gaveta o projecto da barragem de Myitsone.

A aproximação norte-americana ao Myanmar deve ser vista também à luz dos recursos importantes da região e ainda tendo em atenção a situação estratégica do país naquele mapa asiático, entre os dois gigantes China e Índia, com os quais tem mantido relações cordiais, e ligando o Médio Oriente ao Sudeste Asiático num corredor por onde passam muitos terroristas fugidos do Afeganistão.

Os Estados Unidos têm apoiado muitos executivos do Sudeste Asiático no âmbito da luta contra o terrorismo que travam mundialmente. Logo, também a nível de segurança os EUA devem ter interesses bem definidos para o Myanmar.

Quer penda para o país liderado por Barack Obama, quer se vire para o de Hu Jintao, esta abertura só trará benefícios a Thein Sein, sobretudo se ele conseguir negociar acordos favoráveis ao país e não
sucumbir ao poderio económico dos outros. Caso contrário, poder dar-se o caso de ver evaporarem-se os recursos naturais, enquanto o país permanece na lista dos mais pobres do globo.

NOTA: Este texto foi escrito a 19 de Novembro de 2011.

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