sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Victor Ângelo: o contacto com as populações ao serviço da ONU

Victor Ângelo é um homem que dispensa apresentações no campo das RI, graças à sua experiência de mais de 30 anos na ONU. É um notável colunista na Visão, mas também podem segui-lo com mais regularidade no seu blogue. Há cerca de um mês, o Dr. Victor Ângelo deu-nos uma excelente aula no seminário de Gestão de Crises e na altura questionei-o acerca do nível das Forças Armadas que encontrou no terreno. Hoje, fica um texto acerca do contacto com as populações no terreno.


A minha interacção com as populações, nas zonas de conflito em que servi, revelou que a preocupação mais urgente é a de restabelecer um mínimo de segurança colectiva. Ou seja, as pessoas estão ansiosas por voltar à normalidade que caracterizava as suas vidas, antes da violência e da crise. Por isso, o que mais desejam é o regresso a um ambiente de segurança. Poderão, assim, voltar às suas actividades económicas, mesmo que sejam apenas ao nível da subsistência, e recuperar uma parcela importante da dignidade perdida.

Em seguida, para que a segurança das comunidades se torne durável, é preciso que as missões de paz apoiem as iniciativas locais de resolução de conflitos e que as interferências políticas provenientes da capital sejam minimizadas. É preciso, por isso, estabelecer uma relação estruturada com os líderes das comunidades, ajudá-los na arbitragem de conflitos de interesses que possam provocar o reacender da violência, e, ao mesmo tempo, garantir uma certa autonomia em relação ao poder central.

Convém tratar de outras questões básicas, sem demora, ao mesmo tempo que se tenta resolver a questão da segurança. Existem certas necessidades imediatas, ligadas às dimensões humanas do conceito de segurança, como a disponibilidade de água potável e de cuidados primários de saúde, que devem fazer parte do pacote inicial. Para além de responderem a aspirações concretas das populações, têm a vantagem de mostrar que a paz traz dividendos tangíveis. 

As missões de paz têm ainda muito que aprender, no que respeita às ligações com as organizações comunitárias ao nível local. Existem algumas experiências válidas, que precisam de ser sistematizadas e difundidas.
Victor Ângelo

Sem comentários:

Enviar um comentário