terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Fundamentalismo Islâmico


Numa altura que assistimos a associações erradas de determinados conceitos, deixo aqui exposta uma exposição do conceito “fundamentalismo islâmico”

Fundamentalismo

Contrariamente ao que podemos pensar, o termo fundamentalismo surge pela primeira vez, nos EUA, em 1920, sendo atribuída a sua existência aos cristãos protestantes anglo-saxões. Na época (1910 – 1915) teólogos protestantes haviam compilado artigos de natureza doutrinária, “ The Fundamentals”, uma reacção contra o declínio moral e espiritual que se alastrava no seio do protestantismo. «Em 1920, Curtis Lee Laws, Director do Jornal Baptista “The Watchman Examiner”, chegou a escrever que um fundamentalista é toda e qualquer pessoa que procura travar uma luta encarniçada em prole dos fundamentos da sua fé» (Costa. 2001:17).

Os seus seguidores e apoiantes seriam então denominados de “Fundamentalists”.

Fundamentalismo Islâmico

Actualmente o termo, fundamentalismo, está intrinsecamente relacionado com o Islão, grandemente ao 11 de Setembro, e à “propaganda” difundida pelo Ocidente, na “cruzada mundial contra o terror”.

Impera referir que no Islão não existindo uma separação entre esfera secular e religiosa, o fundamentalismo é uma força de carácter político.

São várias as causas que contribuíram para a existência do fundamentalismo islâmico, mas saliento aquela que influenciou grandemente o fenómeno, a imposição Ocidental de sistemas políticas que não vigaram e a tentativa dos países muçulmanos mantê-los impropriamente. Como refere Yves Lacoste em ''A Geopolítica do Mediterrâneo'' (2008), são “as brasas mal apagadas da História” que determinaram o rumo de determinados países árabes, especialmente no Mediterrâneo e Médio Oriente, onde estiveram sob colonialismo maioritariamente francês e britânico.

Mas outras causas podemos identificar, como a crise de identidade do mundo árabe, uma reacção ao laicismo, ao reformismo e à secularização, uma reacção etnocêntrica e xenófoba especialmente contra o Ocidente, a divisão do Império Otomano e o surgimento de inúmeros e diferente Estados contribuiu para o surgimento dos nacionalismos e ideologias transnacionais com o pan-arabismo, sentimento de humilhação, repulsa simultânea pelo colonialismo, neocolonialismo e pelo socialismo marxista, crise económica e social provocada pelo êxodo rural e pela urbanização explosiva e ainda o sentimento de humilhação dada a subordinação do mundo árabe em vários aspectos a grandes potências ocidentais.

Identificadas as causas é perceptível afirmar que o fundamentalismo islâmico tem três aspectos essenciais, como salienta Teresa de Almeida e Silva em “Islão e Fundamentalismo Islâmico” (2011), o totalitarismo, uma visão literalista da Shari´a e ainda ser coercivo e repressivo. É totalitário porque regula a vida social do indivíduo, a privada e a pública. Pressupõem que os princípios do Alcorão devem ser aplicados rigorosamente, daí que estabeleça uma visão literalista da Shari´a. E por fim é coercivo e repressivo dado não ser uma alternativa mas sim uma imposição, de carácter repressivo.

Falar de fundamentalismo islâmico é debruçar sobre um conceito de extrema complexidade. É certo que o conceito de fundamentalismo é extremamente recente, mas o mesmo não podemos afirmar do fundamentalismo islâmico. Analisando a história do Islão, encontramos vários indícios de fundamentalistas desde os seus primórdios, logo após a morte de Maomé, O Profeta, até à actualidade.

Impera salientar que «o Fundamentalismo Islâmico envolve o esforço para fazer regressar os muçulmanos ao caminho do Islão, o que suscita uma onda afirmativa de sentimento islâmico que penetra em todo o Mundo Islâmico, esgrimindo os princípios islâmicos fundamentais para a satisfação das necessidades e dos desafios da época contemporânea» (Costa.2011:17).

Bibliografia

COSTA, Hélder Santos (2001) Revivalismo Islâmico, Lisboa, ISCSP.

LACOSTA, Yves. (2008) A Geopolítica do Mediterrâneo, Edições 70.

SILVA, Teresa de Almeida e. (2011) Islão, Fundamentalismo Islâmico das Origens ao Século XXI, Pactor, Lisboa.

2 comentários:

  1. é de facto uma análise verdadeira. Gostaria ainda de referir que, em época natalícia, acontecem grandes massacres sobre cristãos provenientes deste fundamentalismo islâmico.

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  2. Gostei da análise, interpretando afinal o fundamentalismo não somente como um movimento apenas do mundo islâmico, mas como uma reação ao ocidente. O fundamentalismo cristão tb está crescendo bastante.

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