Os fundamentalistas são os seguidores mais conservadores de uma religião, chegando, por vezes, a desenvolverem-se de forma militar, considerando que a sua causa – da maior importância – justifica os meios utilizados. Esta realidade é bem antiga. Fundamentalistas estiveram na base das Cruzadas, movimentos militares de inspiração cristã que pretendiam conquistar a cidade de Jerusalém entre os séculos XI e XIII.
Enquanto no Cristianismo, o fundamentalismo foi uma reacção ao modernismo que começava a espalhar-se nas igrejas norte-americanas e uma defesa das doutrinas fundamentais do Evangelho, que os teólogos modernistas já não consideravam verdadeiras, no Judaísmo, este movimento nasceu entre os judeus Haredi, que se consideram os "verdadeiros judeus da Torah" e que vivem estritamente no modo religioso. Existem realidades equivalentes no hinduísmo e noutras religiões mundiais.
Devido à conotação negativa que a palavra adquiriu – muito por culpa de acções terroristas -, variados grupos de fundamentalistas rejeitam ser considerados ao abrigo deste termo. Entre os cristãos, o termo começou a ser rejeitado, em concreto na década de 1980, durante os conflitos no Líbano, quando o Hezbollah e outras facções islâmicas começaram a ser apelidadas de fundamentalistas.
É, desde logo, preciso ter em conta o oportunismo da religião que, não raras vezes, predomina na planificação de ataques terroristas. Ao tentar destruir outros estados, Osama bin Laden dirigia-se a todos os muçulmanos como 'irmãos', com o propósito de criar uma proximidade entre eles e a causa que defendia. “Não interessa qual a narrativa ou o plano que é partilhado por todos os fundamentalistas. A homogeneidade ideológica é uma ficção. Os fundamentalistas envolvidos no terrorismo fingem que todos partilham objectivos e valores comuns” (Kushner, p. 30).
Os fundamentalistas tentam converter os religiosos da comunidade maior onde estão inseridos, tentando convencê-los de que não estão a vivenciar a versão autêntica da religião professada. Não raras vezes, a restante comunidade religiosa dentro de uma determinada fé encara os fundamentalistas como dissidentes, o que leva a separações dentro das mesmas confissões religiosas.
Este fenómeno é um dos problemas mais graves e de difícil resolução que os governantes enfrentam actualmente, dado que joga num terreno que ultrapassa a comum laicidade dos Estados. Enquanto alguns problemas sociais podem ser resolvidos a longo prazo com políticas, apoios económicos ou sensibilização, outros extravasam o campo de acção dos governos, pois envolvem crenças pessoais, na maior parte das vezes herdadas e encaradas como essenciais para uma vida completa (que vai para além da morte).
Contudo, os Estados podem assumir um papel na contenção do fundamentalismo radical, começando, desde logo, pela integração. Muitos dos descendentes muçulmanos cresceram em sociedades ocidentais preconceituosas, o que resultou na sua marginalização. Por isso não causa estranheza o facto de os atentados de 7 de Julho em Londres terem sido levados a cabo por jovens formados da classe média e aparentemente bem integrados na sociedade. Além disso, os governantes não deviam cansar-se de frisar a distinção entre terrorismo e Islamismo.
Um outro problema para os Estados na hora de abordar o fundamentalismo levanta-se quando as religiões vão de encontro aos direitos do Homem. Frisando que se trata de um tema social gerador de “enorme polémica por ser um dos mais complexos”, Helder Santos Costa dá conta de uma perspectiva segundo a qual “as tradições religiosas podem interferir nos direitos humanos e os líderes religiosos podem até sustentar o primado das tradições sobre os direitos” (2006, p. 363). Estas posições, já de si preocupantes, aliadas a fundamentalismos crescentes, configuram um dos maiores problemas da actualidade.
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Referências bibliográficas:
COSTA, Helder Santos, Temas e problemas das ciências sociais: introdução às ciências sociais”, Lisboa, ISCSP.
KUSHNER, Harvey W. (1998), O futuro do terrorismo: violência no novo milénio, Thousand Oaks, SAGE.
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