A palavra fundamentalismo tem estado cada vez mais na boca do mundo, sobretudo desde o 11 de Setembro de 2001, em que um grupo de terroristas, apelidado de fundamentalista, espalhou o terror no meio de uma sociedade que se considerava segura e organizada. Porém, é bom lembrar que fundamentalismos existem há muito tempo e defendem diversas causas.
Perante a pluralidade que caracteriza a maior parte das sociedades actuais, os fundamentalistas têm menos margem de manobra, daí, não raras vezes, darem a conhecer as suas ideias da pior forma.
Além disso, os próprios fundamentalismos tentam recriar uma sociedade demasiado fechada, o que se complica ainda mais num mundo democrático, cheio de conhecimento e oportunidades.
Mas o que é o fundamentalismo? Constitui um movimento que pretende um regresso àquilo que são os princípios fundamentais que estiveram na origem de um grupo em particular. Este conceito aparece comummente relacionado com grupos dissidentes que, de forma premeditada, rejeitam identificar-se com o grupo que domina uma sociedade, acusando-o de se ter desviado dos princípios fundamentais e de se ter corrompido entre princípios alternativos contrários à identidade original. O fundamentalista acredita nos seus dogmas como verdade absoluta e indiscutível, recusando abertura ao diálogo. O fundamentalismo trata-se, assim, de um problema social de origem ideológica, como também o é a xenofobia.
A expressão foi usada pela primeira vez nos Estados Unidos, na década de 1920, entre cristãos protestantes anglo-saxões, que “compilaram artigos de natureza doutrinária (…), que viriam a consagrar o património sagrado insusceptível de negociação”, segundo António de Sousa Lara, citado por Teresa de Almeida e Silva (2010, p. 237). “Esta colectânea de 12 panfletos mereceu a designação de 'Fundamental' e os seus apoiantes e seguidores a de 'Fundamentalists'”, acrescenta.
A mesma autora explica que esta compilação de textos surgiu em “reacção ao declínio moral e espiritual que se alastrava no seio do protestantismo”, visando restaurar a fé histórica (2010, p. 237 e 238). Na altura, a sociedade moderna começava a guiar-se por leis humanas e deixava de lado as divinas, afectando os hábitos e o estilo de vida.
Apesar de ter nascido no seio do Cristianismo, o termo foi aplicado noutras religiões até passar a estar actualmente associado ao Islão.
Usado normalmente de forma pejorativa, o termo refere-se sobretudo a grupos religiosos que vão de encontro aos princípios defendidos pela maioria ('fundamentalismo religioso') e a movimentos étnicos extremistas ('fundamentalismo étnico'). Por se referir a uma crença irracional e exagerada, que não raras vezes roça o fanatismo, o termo passou ainda a ser usado por outras ciências, como a Economia, que fala em 'fundamentalismo de livre mercado'. Contudo, cada vez mais a palavra entra nos discursos a propósito das mais variadas temáticas. O termo 'fundamentalismo estatal' é um desses casos.
É pois necessário diferenciar fundamentalista de extremista: enquanto o primeiro defende acerrimamente a sua fé, o segundo usa a força para defender a sua posição.
Para considerar o fundamentalismo um problema da sociedade importa lembrar à partida, como escreve George Ritzer, que problemas sociais são normalmente condições e formas de comportamento que subvertem o funcionamento de instituições sociais importantes e causam danos em indivíduos e grupos sociais (Ritzer, 2007, p. 4496).
Apesar de os problemas sociais serem encarados como “indicadores de um estado patológico da sociedade e/ou causados por patologias individuais”, os argumentos centrais contra a ideia de patologia social são que “os valores e as normas na sociedade estão a mudar e têm de ser diferentes para diferentes grupos em sociedades diferenciadas”, ressalva o mesmo autor (Ritzer, 2007, p. 4498).
“Nestes tempos actuais ditos “pós-modernos” - na verdade apenas contra-iluministas – (…) os direitos humanos vêem-se ameaçados por todo o tipo de fundamentalismos (Alves, 2001, p. 242), por isso os cientistas sociais encaram todos os géneros de fundamentalistas “como um problema social crescente e uma ameaça a uma ordem mundial civilizada” (Campbell, 2000, p. 289).
Nota: Para breve uma exposição mais aprofundada sobre fundamentalismo religioso, étnico, de mercado e ecológico.
Referências bibliográficas:
ALVES, José Augusto Lindgren (2001), Relações Internacionais e temas sociais: a década das conferências, Brasília, Instituto Brasileiro de Relações Internacionais.
CAMPBELL; George van Pelt (2000), “Religião e cultura: desafios e possibilidades na próxima geração”, in Journal of the Evangelical Theological Society, 43/2, p. 287 a 301.
RITZER, George (ed.) (2007), The Blackwell Encyclopedia of Sociology, Wiley-Blackwell.
SILVA, Teresa de Almeida e (2010), Sociedade e cultura na área Islâmica, Lisboa, ISCSP.
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