quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Israel Loves Iran"

Recentemente foi iniciada uma campanha que passou um tanto despercebida nos meios de comunicação, contrariamente à tão mediática “Kony 2012”. Lamentavelmente não teve a devida exposição relativamente à dimensão do problema.

A tensão existente entre Israel e Irão é perceptível. O Irão insiste em (re) afirmar que o seu programa nuclear tem fins pacíficos, e que tudo aquilo de que é acusado é mera especulação. Em contrapartida, o Ocidente crê que Teerão caminha a largos passos para a construção de uma bomba nuclear. Tal acontecimento colocaria em causa o equilíbrio de poder na região, daí o desconforto com a potência regional, Israel.

Importa reter que o programa nuclear iraniano foi lançado na década de 50 do século XX, com auxílio norte-americano, aquando do governo do Shah Pahlavi.

Desde o relançamento do programa nuclear por Teerão, no decorrer da década de 90, temos assistido a sucessivas estratégias com fim de travar os intentos iranianos. Desde pressões a nível diplomático e económico.

O mundo parece escandalizar-se perante um Irão nuclear, e não com Israel. Impera salientar vários aspectos. O Irão membro do Tratado de Não-Proliferação (TPN), pode desenvolver um programa nuclear legalmente. Tendo assinado o TPN, é alvo de inspecções por parte da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Recorde-se que no relatório da AIEA de 2011, podíamos ler «o Irão tem realizado actividades relevantes para o desenvolvimento de um dispositivo nuclear» (Prashad.2012:48). Tal é algo que não ultrapassa aquilo que é estipulado no TPN. Relativamente ao Estado israelita, este já detém cerca de 200 ogivas nucleares, recusa-se a assinar o TPN, evitando assim os inspectores da AIEA.

Curiosamente o Ocidente parece temer um Irão nuclear e não um Paquistão nuclear, um território instável e fornecedor de terroristas.

Uma “guerra de baixo nível”, como li num artigo na Courrier Internacional, parece estar instalada. O Irão nos últimos tempos tem sido confrontado com sabotagem cibernética, violação do seu espaço aéreo, assassínio de cientistas nucleares e ainda explosões de instalações militares. Suspeita-se que por detrás destes ataques esteja Israel.

A crise está instalada! E parece que teima em não disseminar.

Face às sucessivas ameaças israelitas de um ataque preventivo contra as instalações nucleares iranianas, dois israelitas, Ronny Edry e Michal Tamir, designers gráficos, decidiram através das redes sociais lançar a campanha “Israel loves Iran”. Logo alastrou-se além fronteiras e no Irão surgia “Iran loves Israel”.

Este movimento pacífico evidencia o desejo quer de israelitas quer de iranianos para uma solução que não passe pelo confronto. Após o lançamento da campanha, vários protestos decorreram nas ruas de Telavive, contra as diversas ameaças bélicas de Benjamin Netanyahu.

Ainda assim segundo uma sondagem realizada pelo Centro de Jerusalém para os Assuntos Públicos, revela que 65% dos inquiridos estão de acordo com um eventual ataque a Teerão. Acreditam que as consequências de um ataque preventivo serão menores do que viver com um Irão nuclear. Uma outra pesquisa realizada pelo jornal Há´aretz revela que não existe consenso no seio da população israelita. Nesse mesmo estudo cerca de 58% dos entrevistados é contra qualquer ataque.

Um tanto curioso o contra-senso destes dados. Penso que nem israelitas nem iranianos, pretendem um conflito entre as duas potências regionais. As consequências seriam devastadoras na região e apenas contribuiriam para atrasar o programa nuclear. No panorama internacional teriam certamente graves repercussões.

É essencial que a postura a adoptar para com o Irão não incorra nos mesmos parâmetros que levaram aos erros cometidos noutros palcos, como no Afeganistão ou no Iraque.

Referências Bibliográficas:

CONESA, Pierre; COVILLE, Thierry (2012) “Até onde pode levar a lógica beligerante anti-Irão?”, Courrier Internacional, nº. 193, p. 51;

NADER, Ralph (2012) “Uma repetição do Iraque?”, Courrier Internacional, nº. 193, p. 49-50;

PRASHAD, Vijay (2012) “Ansiosos por nova invasão”, Courrier Interncional, nº. 193, p. 46-48;

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