segunda-feira, 23 de abril de 2012

Tajiquistão, entre a dependência russa e as ameaças na região

O Tajiquistão é o estado mais pobre dos que resultaram do desmembramento da URSS e assume um especial destaque pelo facto de ter entrado numa guerra civil logo após a independência, pelo exemplo do Islão politizado e também pela proximidade com o Afeganistão.

O país tornou-se independente em 1991 e logo depois foi palco de uma guerra civil. Apesar do acordo de paz alcançado em 1997, permanecem divisões. 

Na opinião de Asmed Rashid, sobre os países da Ásia Central cai o perigo de seguirem o caminho do Afeganistão, com o colapso do Estado e o aumento do terrorismo, ou a alternativa de tirarem partido do envolvimento da comunidade internacional para reconstruir os seus países, assumindo assim uma postura contra o terrorismo e o extremismo islâmico e um compromisso de caminharem para a democracia (Rashid, 2003, p. 233).

Francisco Strazzari avisa, contudo, que “democracia e direitos humanos são dois objectivos difíceis de conseguir nestas paragens onde imperam o fundamentalismo religiosos de matriz islâmica, a hegemonia política de líderes tradicionais e a corrupção” (Strazzari, 2007).

 O país enfrenta ainda a ameaça terrorista, do Movimento Islâmico do Uzbequistão (MIU) um grupo ligado à Al-Qaeda, que ainda recentemente reivindicou a responsabilidade de uma emboscada contra um comboio militar em Setembro de 2010, que matou 28 soldados.

 O medo do regresso de uma situação como a vivida na guerra civil, que teve início logo no início da década de 90 e que vitimou milhares de pessoas, ainda está presente na memória de muitos. Por isso, segundo a Asia News, o Tajiquistão quer trazer de volta todos os seus alunos da Universidade Al-Azhar, no Cairo, Egipto, considerada como a maior universidade do mundo islâmico, por receio de que os estudantes recebam influências de grupos terroristas islâmicos.

 Neste âmbito, Pascoal Santos Pereira ainda para “os fortes interesses criminosos internos que floresceram com a economia de guerra e com a ausência de regulação jurídica e policial” e que “continuam ainda bem presentes na sociedade, frequentemente com importantes ligações políticas, e que não teriam nada a perder com o eventual ressurgir de um conflito armado no Tajiquistão” (Pereira, 2009, p.12).
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Por outro lado, Maria João Freire escreve que “o Tajiquistão é não só dependente da Rússia, como subserviente à sua influência, notória na definição das suas políticas a nível interno e externo” (Freire, 2010). Recorde-se que Moscovo conta com uma base militar no país.

Repare-se também que a “presença de armas nucleares na região dificulta a articulação autónoma” dos cinco países da Ásia Central, tendo em conta o “interesse russo em manter os laços de dependência e cooperação tanto na área militar como económica”. O temor de uma proliferação nuclear na região chama também a atenção dos “Estados Unidos que temem o uso deste arsenal por parte de grupos terroristas islâmicos que se concentram na região”, nota Robson Coelho Cardoch Valdez.

 O mesmo autor destaca que “enquanto os Estados Unidos, Europa, o Irão e a China procuram usufruir dos espaços deixados pela política externa da Rússia na região, a região centro-asiática do planeta vê esta movimentação das potências como forma de exercitar a sua pseudo-independência e

Para além das dificuldades derivadas da proximidade com o Afeganistão e o Paquistão, o Tajiquistão tem ainda problemas com Pequim, que reivindica cerca de 30 por cento da província oriental tajique de Gorno-Badaquechão, onde existem grandes depósitos de ouro (Rashid, 2003, p. 92).  

Pascoal Santos Pereira dá ainda conta de outras ameaças: para além de proximidade com o Afeganistão e de “alguma tensão” com o Quirguistão, “por questões de delimitações fronteiriça”, “a retenção da água nas barragens no Tajiquistão tem estado na origem de alguma tensão com o vizinho Uzbequistão, que daí faz condicionar o fornecimento de gás e energia ao seu vizinho” (Pereira, 2009, p.12).

Já Guillaume Hernard entende que no seio do regionalismo, resultante da facções determinadas essencialmente pela origem geográfica, é favorável a emergência de chefes de guerra locais que entrem em competição com grupos procedentes da mesma região (Hernard, 2000, p. 117).

Tatuado de várias formas pelo passado russo e ainda bebendo da sua tradição muçulmana, o país tem de facto enfrentado não raras vezes dificuldades para conciliar estas duas heranças, sobretudo quando existe pouca união entre as pessoas que o compõem, por causa da geografia montanhosa do país, mais propícia à ligação aos clãs do que a um sentimento nacional.

Podemos então dizer que numa altura em que a região assume uma importância estratégica a nível mundial, especialmente no âmbito do combate ao terrorismo, são muitas as oportunidades, designadamente económicas e de segurança, que o país tem pela frente. Contudo, alicerçados a esta crescente importância estão também perigos, quer assumidos, como a proximidade ao Paquistão, quer invisíveis, como a crescente procura de domínio na região por parte dos Estados Unidos e da Rússia.

Referências bibliográficas:

FREIRE, Maria João (2010), “Ásia Central: o regresso do Eurasianismo às políticas russas”, in http://utopico.blogs.sapo.pt/105441.html

HERNARD, Guillaume (2000), Geopolítica do Tajiquistão: o novo grande jogo na Ásia Central, Paris, Ellipses.

PEREIRA, Pascoal Santos (2009), “Tajiquistão: cruzamento da dimensão económica de reconstrução e prevenção”, in http://cabodostrabalhos.ces.uc.pt/n3/ensaios.php

RASHID, Ahmed (2003), Jihad – Ascensão do Islão militante na Ásia Central, Lisboa, Terramar.

STRAZZARI, Francisco (2007), “Ásia Central: Cinco Nações, Muitos Desafios”, in http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEyZlElZlkCCEoswGW

VALDEZ, Robson Coelho Cardoch, “Geopolítica na Ásia Central: a constante influência externa”, in http://mundorama.net/2010/06/02/geopolitica-na-asia-central-a-constante-influencia-externa-por-robson-coelho-cardoch-valdez/#more-6115

Nota: Parte de um trabalho académico realizado em Janeiro de 2011.

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