sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Primavera Árabe das nações?


Em “a Primavera Árabe das nações”, que pode ler aqui, Shlomo Avineri[1], debruça-se sobre as recentes transformações verificadas no Médio Oriente e Magreb na sequência da tão proclamada Primavera Árabe.  
 
 
 
Avineri, sucintamente percorre os vários territórios afectados pelos “ventos de mudança”, realizando um paralelismo com o sucedido na antiga URSS e no seu desmembramento.
Para a história ficará o derrube de regimes e governantes autoritários através das sucessivas manifestações populares, exibidas com alguma perplexidade pelos meios de comunicação social. Apesar dessa perplexidade sentida, era certo que a médio ou longo prazo, aquelas populações revoltar-se-iam. Como li em tempos, «as ditaduras, por muito que durem, são um regime sem futuro».
 Nem todas as manifestações tiveram o fim pretendido. Alguns regimes conseguiram travar as repercussões da revolta popular, salvaguardando-se, são os casos de Marrocos, Jordânia, Arábia Saudita e alguns estados do Golfo Pérsico, com a excepção do Bahrein como refere o autor. Na sua maioria as monarquias não foram afectadas com a vaga da Primavera Árabe. Na opinião de Shlomo Avineri, tal se deve essencialmente a factores de ordem religiosa. Para além de apontar o petróleo e o lucro que dados estados detêm e que ajuda-os a manter a autocracia, outros porém apostam naquilo que denomina de ‘autoridade tradicional’, serem descendentes do Profeta ou possuírem a custódia dos lugares santos, Meca e Medina.
Outros porém, apesar de conseguirem derrubar o déspota, parece que perderam o rumo ao longo da revolução, como o próprio salienta, «(…) derrubar uma ditadura é uma coisa – um drama que dura algumas semanas – enquanto a transição para uma democracia consolidada é outra. Aqui, é necessário um processo moroso e o seu sucesso (…) depende de condições prévias importantes».
Sholmo Avineri, menciona quatro estados que tendem a não encaminhar-se rumo à democracia, são eles, Egipto, Líbia, Iémen e quiçá a Síria se porventura Bashar al-Assad cair do poder. Relativamente ao caso do Egipto, mais aprofundado pelo autor, os militares e a Irmandade Muçulmana muito provavelmente irão partilhar o poder. Uns (militares) porque há muito que se encontram no poder e não pretendem ficar sem as regalias que o mesmo proporcionou, e os outros (Irmandade Muçulmana) porque foram os grandes vencedores das eleições legislativas realizadas no país. Para Shlomo Avineri muito dificilmente o Egipto caminhará para a democracia, uma vez que a Irmandade Muçulmana detém uma visão de democracia maioritária e não liberal, como o próprio evidencia. O facto de terem ganho a eleição só contribuirá para governar de acordo com a sua visão, alheando-se da restante realidade como os direitos das minorias e afins. Alaa Al-Din Arafat, em “Hosni Mubarak and the future of democracy in Egypt”, vem ao encontro da tese defendida por Avineri. A dada altura é referido, «(…) the former Supreme Guide Mostafa Mashur said, “We accept the concept of pluralism for the time being; however, when we will have the Islamic rule we might then reject this concept or accept it.” The pragmatic conclusion is that MB [Muslim Brotherhood] will use the democratic system to achieve power, and then they will jettison it» (Arafat.2011:177).
Avineri salienta ainda para a possibilidade de desagregação, pois em determinados estados não existe unidade nacional. Vejamos o caso da Líbia, onde a região de Cirenaica, a 6 de Março, proclamou a criação de um Estado semi-autónomo. A mesma terá a sua capital, parlamento, tribunais mas ainda assim continuará a fazer parte da Líbia, mantendo a bandeira e o hino. Não se trata de uma separação mas de uma independência administrativa, menciona um comandante de milícia, Fadl-Allah Haroun. O CNT, no poder desde o derrube do regime de Khaddafi, afirmaria tratar-se de uma conspiração estimulada por alguns estados árabes. Relembro que Cirenaica é uma das regiões mais ricas da Líbia.
Por fim, Sholmo Avineri novamente numa analogia com a URSS exprime que «(…) não nos deveríamos surpreender se a democratização do mundo árabe, por muito difícil que seja, arrastar consigo uma redefinição de fronteiras. Resta saber se esse será um processo violento ou pacífico».
Assistimos a grandes alterações proporcionadas pelos ventos revolucionários da tão proclamada Primavera Árabe. E um dia assistiremos ao abrir das pequenas ‘caixas de Pandora’, que um pouco por toda a região afectada pela Primavera Árabe dimanaram. 

 

Referências Bibliográficas:  

ARAFAT, Alaa Al-Din (2011) “Hosni Mubarak and the Future of Democracy in Egypt”, Palgrave Macmillan, USA;


[1] Professor de Ciência Política, ex director-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros Israelita;

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