quarta-feira, 21 de março de 2012

"Ouro Azul: A Guerra Mundial pela Água"

A água, esse bem escasso, e essencial à natureza humana, será causa de conflito no decorrer do presente século. Este recurso natural, desproporcionalmente distribuído, tem sido nos últimos tempos, e será nos próximos, a razão pela qual homens defrontam-se, pela sobrevivência.

Desde finais do século XX que assistimos a conflitos regionais, especialmente em África e no Médio Oriente, com repercussões internacionais, nomeadamente ao uso, domínio e direitos sobre a água.

Aquilo que deveria ser um direito humano, «(…) um pré-requisito para que os outros direitos humanos sejam possíveis», como menciona a Amnistia Internacional, não é reconhecido como tal no 6º Fórum Mundial da Água, que decorreu em Marselha, no presente mês.

São vários os estudos relativos à escassez da água e seus efeitos na vida humana. As alterações não têm apenas impacto ambiental, mas também político, económico, tecnológico e sanitário. A segurança humana é colocada em causa!

Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano, “Escassez de água — riscos e vulnerabilidades associados”, o grau de risco de escassez de uma dada região é calculado através da equação água/população. Como tal adoptaram que 1.700 metros cúbicos por pessoa seriam o limiar mínimo nacional para responder as várias necessidades. Estipularam ainda que uma disponibilidade inferior a 1000 metros cúbicos representa uma situação de escassez de água, e que inferior a 500 metros cúbicos, escassez absoluta.

Cerca de 700 milhões de pessoas, de 43 países, vivem abaixo do limiar mínimo, ou seja vivem em situação de carência de água. Estima-se que em 2025, mais de 3 mil milhões de pessoas viverão em países sujeitos a pressão sobre os recursos hídricos, dos quais, 14 países se encontrarão numa situação de escassez efectiva. As áreas mais afectadas do globo são o Médio Oriente e África Subsariana. Ao longo dos tempos temos vindo a assistir a conflitos principalmente nestas duas regiões. Enquanto que no Médio Oriente, região mais atingida pela pressão da falta, dispõem apenas de 1.200 metros cúbicos por pessoa, abaixo do mínimo estipulado, na África Subsariana deparamo-nos com o maior número de países pressionados pela carência de água, um quarto da população depara-se com a escassez desse bem.

Ainda de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano, prevê-se que em 2025, a pressão de falta de água sob a África Subsariana intensificar-se-á, sendo que afectará 85% da população. No Médio Oriente e no Norte de África a situação agravar-se-á. As reservas de água médias situar-se-ão em 500 metros cúbicos por pessoa, ou seja escassez absoluta. Estimam que mais de 90% da população da região viverá em países atingidos pela escassez de água. Outra problemática será a densidade populacional, países como a China e a Índia, densamente povoados, farão parte dos países ameaçados pela falta de água.

Como supramencionado, os conflitos tendem a aumentar uma vez que o recurso hídrico, água, tende a escassear, nomeadamente em zonas de grande concentração populacional. Se analisarmos o globo deparamo-nos com várias tensões, nomeadamente no Sri Lanka com os Triges Tamil, entre a Índia e o Paquistão, entre o Bangladesh e a Índia, entre Israel e os territórios da Palestina e da Jordânia, entre o Egipto e o Sudão, entre o Egipto e a Etiópia, entre a Turquia, Síria e o Iraque, e outros mais, que marcaram a história.

Steve Lonergan refere ainda que em muitos dos casos a água seria usada como “arma” no seio do conflito. Desde os primórdios da humanidade até a actualidade vários são os exemplos.

Num cenário quase que apocalíptico a cooperação continua a ser a solução, apesar de todos os entraves. Como menciona Arun P. Elhance, em “Hydropolitics in the Third World Conflict and Cooperation in International River Basins”, «a cooperação hidropolitica pode demorar muito tempo a desenvolver-se, pode não levar necessariamente ao desenvolvimento efectivo e fixação dos recursos partilhados de água, pode não satisfazer ou beneficiar todas as partes de igual maneira e pode não ser possível sem um mediador; no entanto, uma vez conseguida, tal cooperação durará».


Aos interessados recomendo a visualização do documentário "Ouro Azul: A Guerra Mundial pela Água".

1 comentário:

  1. Belíssimo trabalho.
    A concentração de indústrias e pessoas junto aos mananciais hídricos tende a transformar o planeta num extenso deserto sem vida.

    ResponderEliminar