sábado, 31 de março de 2012

Terrorismo e globalização

São muitos os autores que encaram o 11 de Setembro como um ponto de viragem na história mundial. Apesar de o terrorismo ser uma realidade quase tão antiga como a humanidade – pelo menos se o conceito for interpretado na sua versão mais ampla – e de já ser uma preocupação da comunidade internacional no século XX, que levou inclusive à formação de legislação antiterrorista, a partir dos atentados contra os Estados Unidos em 2001 o problema saltou para o topo da agenda internacional de muitos países.

Desde logo ficou clara a vulnerabilidade da única superpotência do mundo perante uma forma de 'guerra' tão fácil e de difícil contorno como o suicídio. Ficaram também a nu as fragilidades da globalização - que o mundo moderno e, sobretudo, ocidental se orgulhava de liderar -, bem como os 'buracos' dos sistemas de defesa dos países com grandes arsenais militares.

Um mundo cada vez mais global e sem fronteiras é o terreno ideal para organizações que procuram fugir das autoridades. Através da Internet, é possível às redes terroristas estarem em todo o mundo, organizar atentados com discrição, mudar mentalidades e, inclusive, aprender a fazer bombas de forma fácil e barata.

Legenda: Ataques do 11/9. Créditos: http://filipspagnoli.wordpress.com
 Os terroristas estão disseminados por todos os continentes, sobretudo nos países que atacam, e não raras vezes são jovens que cresceram em sociedades que os marginalizam e que não lhes dão emprego. Esta discriminação agravou-se com muitas das medidas tomadas no âmbito da luta contra o terrorismo após o 11/9. Num primeiro momento, foi o presidente norte-americano a fazer uma divisão entre amigos e inimigos. Entretanto, se alguns ocidentais chegaram a mudar de carruagem num comboio ao verem um muçulmano, as próprias autoridades também não assumiram um comportamento exemplar, com, por exemplo, muitos responsáveis pela segurança de aeroportos a mostrarem-se demasiado desconfiados perante crentes em Maomé.

Em cenários destes, muitas jovens muçulmanos – inspirados por outros exemplos e aliciados por organizações como a Al-Qaeda - encontram algum sentido para a sua vida em causas como a Jihad Menor, que garante o estatuto de heróis aos suicidas islamistas. Só assim se perceber porque é que o ataque de 7 de Julho em Londres foi levado a cabo por indivíduos que nasceram no Reino Unido.

Apesar desta discriminação que se acentuou no início do XXI, é  preciso ter em conta que as divisões entre mundo ocidental e mundo muçulmano são antigas. Basta recordar, por exemplo, o apoio dos EUA a Israel na ocupação da Palestina, algo reprovado pelos muçulmanos. João Marques de Almeida frisa que se existem causas que explicam o aparecimento da Al-Qaeda, “elas resultam em larga medida de erros políticos das potências ocidentais no Médio Oriente” e de “graves problemas económicos e políticos que afectam as sociedades muçulmanas”. Dando mais um passo atrás na história, vê-se a queda do Império Otomano e a perda do domínio muçulmano no mundo. José Anes realça, a este propósito, que a “humilhação é a palavra-chave para se compreender as motivações profundas dos terroristas religiosos e islamistas em particular”. (AAVV, 2007, p. 173).

A par desta dicotomia é ainda possível falar de outras, como a que afasta países pobres de ricos. José Anes destaca que, “depois da falência das grandes ideologias laicas”, uma “superestrutura religiosa fundamentalista radical” surge como “a última reserva de identidade resistente face às injustiças sociais, económicas e político-militares e face à ameaça cultural e religiosa ocidental” (ibidem).
Por tudo disto, Alcino Cruz alerta que “todos os países ocidentais podem ter a certeza de que não terão descanso (…) até que os propósitos do Islão sejam concretizados”, ou seja, até que o Islão se espalhe por todo o mundo (Cruz, 2002, p. 34).

Esta realidade permite perceber o que levou Samuel P. Huntington a defender em 1993 que o choque de civilizações iria dominar a política internacional após o fim da Guerra Fria.

Referências bibliográficas:

  • AAVV (2007), Religiões e Política Mundial, Lisboa, Público e Universidade Autónoma de Lisboa. 
    CRUZ, Alcino (2002), O pensamento e a humilhação das mulheres da fé islâmica, Lisboa, Campo Grande Editora.
     

 

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