O Sahel tem-se tornado numa zona
'viveiro' de terroristas, tendo até o grupo Boko Haram criado uma
base apelidada de “Afeganistão” na Nigéria. A vizinha Europa,
alvo atraente, é agora 'convidada' a assumir o papel principal na
luta anti-terrorismo.
A Jihad ('guerra sagrada') em África
ganhou expressão sobretudo a partir de 1998 e, desde então, os
ataques terroristas têm-se multiplicado, à medida que cresce o ódio
contra uma Europa que se fez distante após décadas de colonizações
e que serve de bode expiatório para muitos dos problemas que a
região enfrenta, como a pobreza extrema.
Com as crescentes limitações na Ásia,
que tiveram como expoente máximo a luta contra o terrorismo no
Afeganistão, os terroristas internacionais encontram agora em África
o terreno ideal para se movimentarem. Fronteiras permeáveis, fraco
policiamento, Estados falhados como a Somália, crescente número de
muçulmanos descontentes com as autoridades, desemprego em crescendo,
recursos naturais ricos e por explorar e crime organizado
transnacional são alguns dos ingredientes que tornam a região num
paraíso para os terroristas.
Com efeito, a falta de dinheiro leva
muitos habitantes da zona a ceder às tentações oferecidas por
organizações como a Al Qaeda no Magreb Islâmico, ainda que muitos
deles não abracem a causa da Jihad.
Não é esta, todavia, a tendência.
Com a ausência de oportunidades numa zona historicamente marcada por
disputas entre muçulmanos e cristãos e pela importância do Islão
na mobilização das massas contra o colonialismo, muitas pessoas
encontram agora respostas em organizações terroristas islamistas,
em particular em escolas que formam futuros jihadistas.
É o caso do grupo nigeriano Boko Haram
(significa 'educação proibida' em alusão ao ensino ocidental), que
critica a corrupção e a violência policial e que luta pela
implementação da 'Sharia' (lei islâmica) em todo a Nigéria, o
oitavo país mais populoso do mundo.
Segundo a AP, só este ano o grupo, que
tem aterrorizado a região, sobretudo cristãos e polícias, terá
morto pelo menos 247 pessoas, 21 das quais no atentado aos
escritórios da ONU em Abuja. Este ataque surpreendeu o mundo, visto
que a organização bate-se por mudanças internas e não
internacionais (ainda que a ideia da Jihad seja tornar o mundo
totalmente muçulmano, recorrendo mesmo ao uso da força para tal).
Cresce assim o receio de uma cooperação
operacional cada vez maior entre redes internacionais, como a Al
Qaeda, e seitas regionais, uma equação onde entram ainda os
rebeldes shebab na Somália.
Ainda esta sexta-feira, o íman
Abubakar Shekau defendeu que a 'guerra sagrada' é a única forma de
os muçulmanos na Nigéria conseguirem mudanças e instou os
seguidores do Boko Haram a continuarem com os assassinatos.
Após os erros cometidos no
Afeganistão, os Estados Unidos têm trilhado um caminho diferente na
luta anti-terrorista no Sahel, apostando sobretudo na prevenção e
no apoio militar às autoridades. Trata-se, contudo, de um apoio
pouco inocente, tendo em conta a importância dos recursos
estratégicos da zona, os mesmos recursos que levam a China a
cortejar a região com investimentos em infra-estruturas.
A Europa, devido à proximidade
histórica e geográfica com os países do Sahel, deve assumir um
papel predominante na luta anti-terrorista, apostando não tanto em
reforços militares, mas sobretudo no apoio à construção de
sociedades mais sãs, com escolas acessíveis à maioria da
população, autoridades fortes e economias capazes de gerar emprego.
Não é tarefa fácil, mas os países europeus poderão ganhar muito
com isso se fizerem parcerias inteligentes que lhes permitam obter
ganhos com alguns dos recursos da região, como petróleo e ouro.
Pelo contrário, virando costas a esta
realidade, a Europa arrisca-se a ver cada vez mais terroristas
entrarem-lhe pela porta das traseiras, bem como a sofrer com o crime
organizado que serpenteia o deserto do Saara até ao sul da Europa.
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