domingo, 27 de novembro de 2011

Irão: Parte I

Aqui ficam uma série de reflexões sobre o Irão

Irão: Actor global

Antes de mais, importa mencionar que o Irão, enquanto regime teocrático, centra muitos poderes no líder religioso, Ali Khamenei, nomeadamente aqueles que por norma são destinados ao presidente da República, supervisando e delineando o rumo político do país. Para além disto, “O Supremo Líder do Irão” nomeia os titulares dos principais cargos e órgãos. O presidente, cargo actualmente ocupado por Mahmoud Ahmadinejad, é a segunda figura do país e é eleito por sufrágio universal. Ainda assim os candidatos passam pela ratificação do Conselho de Guardiões, para garantir a defesa do ideal da revolução islâmica por parte de quem quer chegar à presidência.
Apesar da constante instabilidade da região, o Irão, graças ao seu posicionamento e vasto conhecimento da multiplicidade de línguas e cultura, tem se mantido como um “mestre” do “soft power”, mantendo a sua influência activa na zona. Se é certo que se verifica um recrudescimento das suas posições externas, temos sempre que levar em conta as necessidades internas do próprio Irão, principalmente ao nível da segurança. Observa bem os “reports” da Chatham House sobre o Médio Oriente, que o Irão, estando rodeado por países com forças americanas no terreno, quer nas crises no Iraque e Afeganistão, quer na Turquia, com as bases. No noroeste está o Cáucaso, também sempre em conflito. Ou seja, um Irão fraco e sem voz activa poderia significar o fim da tal independência advogada pela Revolução Islâmica. Assim, torna-se fácil a percepção das duras posições do regime presidido por Ahmadinejad. Aliás, a eleição do sucessor do moderado Khatami representou em si uma viragem no país, uma vez que entrou em conflito também com a elite política e abastada do Irão, graças ao conservadorismo das suas convicções. O tom vincadamente inflamatório da sua retórica tem abanado a estruturas privadas, pouco dadas a conservadorismo no consumo. Até que ponto isto pode prejudicar a economia? Ainda se está para saber, agora é certo que estas elites não estão com a vida facilitada.
No plano externo, ao contrário dos antecessores, Mahmoud Ahmadinejad tem optado por uma via de confrontação com o Ocidente. E tem astutamente escolhido alguns parceiros, sempre por oposição aos EUA. Dentro deste âmbito, basta lembrarmos as provocações ao Estado de Israel, referindo que este deveria desaparecer, aproximando-se consequentemente a “organizações de libertação” como o Hamas e o Hezbollah. A somar a isto, oficialmente o governo de Ahmadinejad nega a existência do Holocausto, mais uma vez em provocação frontal aos EUA e Israel. Apesar de administração Obama optar por via mais pacífica, Ahmadinejad tem insistido nestas e noutras provocações, como a ingerência Xiita nos quadros governamentais iraquianos e amizade com a Síria. Mas citando Pio Penna Filho “o que não podemos e nem devemos fazer é concordar com o isolamento completo do Irã, ainda mais quando sabemos que vivemos num mundo repleto de contradições e de muita hipocrisia, afinal de contas não presenciamos recentemente uma política externa absolutamente agressiva (e que se utilizou inclusive da tortura) por parte de uma das mais importantes democracias do Ocidente?”[1] A verdade é que o Irão tem-se mantido activo em várias frentes. Tem sempre algo a dizer, mais do que não seja pelo silêncio. Tem sido também uma sombra nas relações EUA/Rússia. Nem a própria ONU escapa às “recomendações” iranianas.


[1] FILHO, Pio Pena, O Irã e sua Inserção Internacional, disponível em www.mundorama.net, consultado em 12 de Dezembro de 2010.


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