A história já mostrou
que sim. Adolfo Hitler conseguiu usar uma humilhação recalcada como
suporte de uma ideologia expansionista. Sem querer comparar o
incomparável, vale a pena apontar os riscos – incalculados – que
o primeiro-ministro grego está a correr ao convidar um povo
humilhado a mudar a história.
George Papandreou
decidiu perguntar aos cidadãos se querem um segundo pacote de ajuda
externa e já fez saber que acredita no bom senso do povo. Saberá
que está em causa o futuro da permanência da Grécia no euro e
saberá também - ou não fosse filho e neto de políticos que também
chegaram a chefes de governo – que não raras vezes os resultados
dos referendos são apenas um voto de descrédito ou confiança no
executivo.
Papandreu viu-se encostado
à parede e com o futuro político condenado por medidas de
austeridade, tal como o seu antecessor, e ter-se-á inspirado em dois
dos grandes pilares do PASOK (o seu partido): a independência
nacional e a soberania do povo.
Contudo, ter-se-á
Papandreu recordado que o povo nestas coisas olha muito a curto prazo
e para o umbigo, pensando mais nos preços que aumentaram
exponencialmente desde a entrada no euro do que nos riscos para o
país do regresso ao dracma? Poderá ele pôr de parte que muitos
gregos consideram que a UE não é sinónimo de ajuda e que entendem
que uma saída da Zona Euro pode traduzir-se em liberdade e
oportunidades longe de uma longa dívida para pagar? Terá esquecido
os meses de revolta e de violência no país contra as medidas de
austeridade? Não terá lido as sondagens que revelam que 60 por
cento dos gregos estão contra o novo capote de ajuda, que inclui um
corte de 50 por cento da dívida do país? Ou terá estado na base
deste referendo uma manobra política e um aproveitamento do
sentimento de humilhação?
Legenda: George Papandreou (Créditos: http://hellasfrappe.blogspot.com)
Para esta decisão
poderão também ter contribuído os rumores de que as forças
armadas se preparavam para um golpe de Estado? Atenas lembrou que as
substituições – inéditas – nas chefias militares já estavam
previstas. Aparte rumores dessa natureza – que nascem em épocas de
crise e em conversas de café entre militares de muitos países,
incluindo Portugal - seria difícil ocorrer um golpe de Estado na
Grécia, dado que acções dessa dimensão devem exigir um largo
tempo de preparação. Independentemente das razões, Papandreou vai
afastar das forças armadas pessoas escolhidas pelo seu antecessor,
mas o timing não podia ter sido pior. Na minha óptica, também a
ideia de um referendo terá surgido de um erro de cálculo envolto em
algum desespero e inocência.
O general Loureiro
dos Santos comentou a situação actual, em especial a crise grega,
afirmando à Lusa: “Quando olhamos para os resultados da grande
depressão dos anos 1920 do século XX houve uma série de
movimentações, perturbações, golpes em toda a Europa. Foi uma
vaga que implantou os nazismos, os fascismos e depois originou uma
guerra mundial. Não estou a dizer que é assim ou que há condições
para ser assim mas, não podemos pôr de parte as várias hipóteses
possíveis".
Apenas a título de
curiosidade: Hitler, após o abandono da Liga das Nações, precisava
de garantir o apoio dos militares da Reicheswehr, que se mostraram
reticentes em relação ao novo executivo, e conseguiu-o ao enfrentar
uma tentativa de golpe de Estado.
Se os alemães não
esqueceram a humilhação do Tratado de Versalhes, tampouco os gregos
esquecem a humilhação de serem o patinho mais feio da Zona Euro nem
a ocupação germânica há 65 anos atrás. Um deles é o próprio
primeiro-ministro que respondeu às repreensões de Angela Merkel
recordando que o ouro retirado ao país pela Alemanha nazi nunca foi
devolvido.
Legenda: Poster colocado em Atenas no final da semana passada (Créditos: rt.com)
O referendo poderá não
se realizar. Afinal, Papandreou encontra-se numa situação muito
frágil para ver aprovada a moção de confiança desta sexta-feira.
O dito referendo já lhe retirou poder político, contando agora com
uma maioria de apenas dois deputados.
É verdade que a
história não se repete, mas é a partir dela que devemos encarar o
futuro, mais que não seja para corrigirmos um passo em falso quando
ainda vamos a tempo de colocar o pé onde estava.
Bom texto Andreia! Só não concordo com o que dizes no final, a História repete-se, mudam-se as personagens mas o resto mantêm-se... A Europa já devia estar familiarizada com aquilo que foi o nosso continente antes do projecto europeu, conflitos e guerras. O "orgulhosamente sós" já não adequa-se a nenhum Estado. Esta "brincadeira" de realizar um referendo coloca a UE em expectativa, porque afinal não é apenas a Grécia que está em causa, mas todo um projecto de unidade...
ResponderEliminarTeresa esse projecto de unidade não vingará enquanto a Europa não falar a uma só voz. É necessária liderança. Enquanto cada Estado lutar pelos interesses individuais o projecto Europeu está condenado.
ResponderEliminarPode ser que esta nova ideia franco-alemã de um governo económico unico ajude a unificar e a criar a tal liderança.