quarta-feira, 23 de novembro de 2011

E da “primavera árabe” passamos a um “outono árabe”? - O caso do Egipto


Passados nove meses após a queda de Hosni Mubarak e a uma semana das eleições legislativas, Tahrir assistiu a novas revoltas. A emblemática praça que derrubou um líder é de novo palco principal para novos acontecimentos.

A 18 de Novembro cerca de 50 mil egípcios saíam à rua exigindo a demissão do Conselho Militar. Saliento que o mesmo, Conselho Supremo das Forças Armadas, dirige o país desde a queda de Mubarak em Fevereiro, sendo presidido pelo marechal Hussein Tantaoui (ex-ministro da Defesa do regime de Mubarak).

Se Tahrir foi palco da luta de um povo contra um regime repressivo, esse mesmo povo vê a permanência dos militares no poder como a continuação desse passado. «“Os militares no poder fazem parte do antigo regime e é com ele que se preocupam, não com o povo. Por isso, pedimos que se demitam o quanto antes”». Quando grande parte dos egípcios pretendiam uma ruptura e o início de uma nova era pós Mubarak, assistem ao oposto.

No passado fim-de-semana, os confrontos intensificaram-se, chegando as forças de segurança a dispararem gás lacrimogéneo e balas de borracha contra os revoltosos que exigiam o fim da junta militar e a transposição do poder para civis. Agravando ainda a situação, apesar das eleições previstas para o próximo dia 28 deste mês, as primeiras desde o afastamento do antigo líder, o Conselho Supremo das Forças Armadas permanecerá no poder, sendo acusados de estarem a preparar o domínio ao próximo governo.

Dada a violência usada nos confrontos, já constam cerca de 40 vítimas mortais e ainda os milhares de feridos, mas tal não desmotiva os revoltosos a continuar a lutar. Como menciona o Washington Post, «“egyptian blood is being spilled. It’s still the January revolution. We’re going to turn it into Libya,” one man chanted, as the crowd clapped along. “Oh martyr, whose soul is resting, your right will be returned. Kill. Kill. Kill. Every bullet makes us stronger”».

Mahamed Elbaradei, Nobel da Paz referia «queremos ver o poder do conselho militar totalmente nas mãos de um governo de unidade nacional composto por civis. A função do conselho militar deve ser apenas a defesa das fronteiras».

Na passada segunda-feira (21/11), o governo interino demitiu-se, mas os protestos não cessaram. Hussein Tantawi, líder do Conselho Superior das Forças Armadas confirmou a realização das eleições parlamentares já na próxima semana, e de presidenciais até Julho de 2012. Ainda propôs a realização de um referendo sobre a permanência do regime militar no poder.

Apesar das declarações de Tantawi, a violência persiste em Tahrir. Contrariamente às posições dos revoltosos na primeira revolução, a unidade não é notória. A Irmandade Muçulmana não está a participar nos protestos, e anseiam pela realização das eleições parlamentares, contrapondo aos revoltosos que primeiro querem a queda do governo militar.


O cenário está totalmente em aberto quanto ao futuro do Egipto. Várias questões surgem perante os recentes acontecimentos.

Os militares continuarão no poder? A Irmandade Muçulmana acederá ao poder? Caminhará a sociedade egípcia para a democracia, ou seguirá o exemplo da Líbia aplicando a Sharia no país? Os Estados Unidos da América terão capacidade de agir no Egipto, caso os confrontos agravem? Estará Israel preparado para o surgimento de um Estado defensor da causa palestiniana?

Com o surgimento de novas notícias sobre os eventos em Tahrir, outras interrogações ocorrem. Neste momento como referi e pouco provável conseguirmos acertar no rumo que o Egipto tomará. Se após Mubarak muitos perspectivaram que a abertura à democracia estaria consolidada, meses depois deparam-se com um cenário totalmente caótico que contrapõem tudo aquilo que detinham como certo.

Importa reter que o Egipto não é um mero “peão” no xadrez político, e muito mais que isso. A sua posição é elevada, dada a importância que detém na região, como garante de estabilidade. É ainda mais importante dado o papel que deteve como mediador entre Israel e a Palestina. E certamente tudo aquilo que está a decorrer no país, e o rumo que tomar influenciará todo o Médio Oriente.

1 comentário:

  1. Concordo com a opinião do prémio Nobel. Vamos lá ver como correm as eleições no dia 28, espero que bem. Espero também que o conselho militar de uma vez por todas "se ponha a andar" do poder, está mais do que claro que o povo egípcio não os quer no poder, está na hora do Egipto ver a democracia.
    parabéns pelo artigo!

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